segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Penso, logo...

 ... existo? Possivelmente essa foi a primeira frase que veio à sua mente ao ler o título, não foi? 
De fato, esta frase é muito famosa, e reflete a nossa sociedade científica muito bem. No entanto, se refletirmos a fundo sobre a questão, veremos que essa idéia é bastante infantil e pode ser facilmente contestada. Vejamos, primeiramente, nosso conceito de mente: para a ciência atual, o cérebro é o órgão responsável pelos pensamentos e idéias, e lá estão guardadas nossas memórias e aprendizados. Lá se formam os pensamentos e lá se concentram todos os mecanismos de comandos para o corpo todo. Se por alguma razão machucarmos nosso cérebro, dependendo da gravidade do ferimento, podemos ter sérios problemas motores, perda de memória, dificuldade de raciocínio dependendo do assunto ou em geral, e muitas outras coisas. Vendo por esse lado, é fácil de se admitir tal concepção, de que o cérebro é o centro formador dos pensamentos. Correto?
Para mim, isso tudo ainda é muito pouco para afirmar tal coisa. Analisando bioquimicamente o cérebro, ele nada mais é do que um local de reações químicas específicas, que enviam sinais elétricos específicos para que o corpo realize funções como mover um braço, uma perna, tensionar um músculo, respirar, bater o coração, produzir hormônios e outras substâncias. Mas, pensamentos? De onde se formam? Seriam nossos pensamentos realmente apenas reações químicas?
Se assim fosse, qualquer um que acabasse por injetar uma certa mistura de ingrdientes ao acaso, e na quantidade correta, poderia provocar uma reação química que forçaria um tipo específico de pensamento e assim, poderíamos, com muita sorte, criar um gênio de um segundo para outro. Se isso fosse correto, cairíamos em uma teoria do acaso e nada mais faria sentido. Mesmo assim, não podemos negar que certos medicamentos (ou seja, a tal inserção de substâncias específicas em quantidades específicas) bloqueiam certas ações do cérebro e/ou estimulam outras.
Não. A mente é algo ainda maior que isso. Por exemplo: temos uma casa. Nesta casa, temos a fiação elétrica. Caso acrescentemos ou removamos alguns fios, o caminho da energia irá mudar, e algumas tomadas irão funcionar, outras não mais. Algumas lâmpadas poderão ser acesas, e outras não. Ou então, poderemos deixar tudo funcionando, ou ainda causar um curto-circuito e danificar toda a fiação, perdendo toda a funcionalidade e até mesmo danificando a casa. No entanto, essa fiação serve de alguma coisa se não possuir eletricidade correndo em si? Não. E a fiação é a eletricidade, ou apenas um meio para ela?
A fiação então é apenas um meio para a eletricidade. O cérebro é apenas um meio para a mente. Podemos ir ainda mais longe. Podemos pensar que aqui no Brasil temos muitas hidrelétricas, portanto nossa energia vem do movimento das turbinas pela força das águas, sendo assim, sem a água não teríamos nem mesmo a eletricidade. Então, podemos dizer que existe uma "água" que gera a mente. Mas, por hora, deixemos essa água que gera a mente de lado. Outro dia talvez eu fale sobre isso.
Nosso cérebro seria então apenas um meio, apenas um receptor para a mente. Os físicos quânticos, após muitas pesquisas, definiram que a mente estaria em algum lugar para além do corpo. Infelizmente, essa ainda é uma ciência muito desacreditada. Mas sim. Essa seria uma teoria que possui lógica. A mente não só estaria para além do corpo, mas ela seria algo que "envolve" o corpo. Sendo de uma natureza mais sutil (porém ainda concreta), ela é um elemento mais poderoso que o corpo físico, tendo domínio sobre ele. Podemos comprovar esse domínio em situações de grande perigo, como mães que levantam carros para retirar seus filhos de baixo, ou vários outros exemplos. Os limites previamente impostos por esse corpo físico já não valem nada quando o comando mental é imperativo e sem dúvidas.
Porém, devido ao fato de que a mente possui uma natureza mais sutil, digamos, "ígnea", e ainda por cima por ser algo mais "novo" para o ser humano (pois claramente os animais, plantas e pedras ainda não desenvolveram uma mente, sendo que nós já desenvolvemos os aspectos físicos, vitais e emocionais que eles já desenvolveram em seus estados, sendo a mente o que nos diferencia deles), possuímos mais dificuldade em controlá-la, e não estamos muito convictos das suas potencialidades. Por exemplo, podemos perceber facilmente quando nosso físico nos apresenta uma situação de dor. Quando nosso vital nos apresenta uma sensação de fome, ou mesmo quando nosso emocional nos apresenta uma sensação de medo (percebe que, conforme passamos de nível, as coisas começam a ficar mais difíceis de serem definidas?). Mas, quando a mente nos apresenta necessidades, e quais são elas? E como nós controlamos nossos pensamentos?
Para deixar claro, tente controlar seu pensamento: não pense, de forma alguma, em uma aranha subindo pela sua perna.
E aí? Conseguiu? Imagino que não. Para alguns, a sensação pode ter até passado apenas da imagem. Podem ter sentido cócegas, sensação de algo andando, alguma coisa. Medo. Claro, ninguém quer uma aranha estranha subindo pela perna. Usei um exemplo desses de propósito. Não é uma situação desejável. Ainda temos a ordem de não pensar (numa aranha subindo pela perna... ... ...sentiu?), mas parece que quanto mais negamos ao pensamento essa imagem, mais forte ela se torna.
Agora, vamos fazer o inverso. Pense numa coisa que você gosta. Por exemplo, um banho de sol. Imagine o sol. Não deixe nenhum pensamento entre você e a imagem do Sol. Lembre do calor. Lembre da cor dourada, da luz. Nada pode interferir nessa imagem. Mantenha somente o sol na sua mente por apenas três segundos... ... ...
Deu certo? Ou quanto mais você tentou manter o sol, mais coisas interferiram? Seja honesto com você mesmo.
Afinal, por que razão não conseguimos controlar nossa mente? E se não podemos controlá-la a contento, como poderemos obter o máximo desempenho, ou mesmo um desempenho satisfatório, do nosso corpo? Simples. Não dominamos a mente. Duvidamos do que podemos fazer. Por não podermos manter uma convicção criada de forma fácil, perdemos a potência da ação ou mesmo a capacidade de agir. Para controlá-la, será uma tarefa muito difícil, que exigirá treino diário e exercícios bastante específicos para concentração, técnicas mnemônicas, desenvolvimento da atenção, da imaginação, da "multifuncionalidade", etc. Poderia se começar com a técnica tibetana do Tratak. Esqueça a história da vela por hora. Comece com o Tratak do círculo com um ponto central:
Numa folha grande, desenhe ou imprima um círculo de 30 cm com um ponto no centro. Pendure-o na parede ou em algum lugar, e sente-se confortavelmente a um metro e meio ou dois da imagem. Então, relaxe o corpo, deixe a coluna ereta e descruze as pernas e braços. Mantenha as mãos repousadas sobre as coxas ou joelhos, onde não houver tensão. Agora, olhe para o ponto e para o círculo ao mesmo tempo. Os dois devem estar visíveis ao mesmo tempo.
Se pensamentos vierem à sua mente, não se prenda neles, apenas deixe-os ir embora. Sua atenção deve estar focada apenas no ponto e no círculo. Ignore os incômodos do corpo e não pisque, nem fique se mexendo. Comece com um minuto por dia. Depois, aumente, até chegar a cinco. Eu já vi gente ficar mais de cinco minutos em frente à televisão sem piscar, então não me venha de frescura só porque é um exercício.
Bem, esse exercício é só o começo. Sobre os pensamentos, poderíamos consertar a frase do começo: "Penso, logo me confundo". Isso soa mais apropriado. E quando ao "Você é o que você pensa", podemos acrescentar "desde que além de pensar faça". Mas não desanime. Toda jornada começa com um primeiro passo, e ao fazer algo novo, sempre haverá dificuldade. Ninguém morreu do mesmo jeito que nasceu. Todos que já passaram pela Terra se desenvolveram. Alguns perfeitos "desastres" viraram mestres com o tempo. Também é possível. Para terminar,
"É bom domesticar a mente que, de difícil domínio, e veloz, corre para onde lhe agrada; a mente domesticada traz felicidade" (Textos budistas)

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